Na década de
trinta, quando o movimento em prol da divisão de Mato Grosso viveu talvez a
mais intensa e exaltada fase de sua história, é que ocorreu a realização, em
parte, do seu desideratum. Deu-se isso em 1943, no dia 13 de setembro, quando o
governo federal, então presidido por Getúlio Vargas, houve por bem criar cinco
territórios federais, sendo dois com áreas do território de Mato Grosso – Ponta
Porã e Guaporé (hoje Estado de Rondônia). O primeiro na fronteira com o
Paraguai e o segundo na região fronteiriça com a Bolívia. Os demais foram
Amapá, Rio Branco e Iguaçu. O de Ponta Porã e o de Iguaçu tiveram existência efêmera.
A criação
dos cinco territórios teve origem no mesmo decreto-lei presidencial, de n.
5.812, publicado no Diário Oficial de 29 do mesmo mês e ano. Desmembrado de
Mato Grosso, passaram a integrar o Território os municípios e distritos de
Ponta Porã (capital), Maracaju, Porto Murtinho, Nioaque, Bela Vista, Dourados e
Miranda.
A administração
territorial, de acordo com o Decreto-Lei n. 5.839, de 21 de setembro do mesmo
ano, seria a mesma do Estado do qual fora desmembrado. No ano seguinte, a 5 de
janeiro, o coronel Ramiro Noronha foi nomeado governador do Território e, a 31
do mesmo mês, chegou a Ponta Porã, instalando o seu governo.
Foi assim
que expressiva parcela da área territorial mato-grossense, praticamente
desbravada e povoada por famílias vindas do Rio Grande do Sul, onde por
primeiro se ouvira, no século anterior, o brado separatista, libertou-se dos
liames que a prendiam à longínqua Cuiabá. Coincidentemente o chefe do governo
federal era também de origem sul-riograndense.
A criação do
Território de Ponta Porã, apesar de ser uma vitória para uns, foi decepcionante
para ponderável parcela da região sul-mato-grossense, que tanto se batera pela
separação da região norte. Todavia, restava a esperança de que esse fora o
primeiro passo para a almejada divisão do Estado. Em decorrência da criação do
Território, justas e insopitáveis demonstrações de euforia tomaram conta da
gente fronteiriça e um seu ilustre filho (Hélio
Serejo) assim registrou o acontecimento: “Gente nova chega todos os dias.
Aos magotes. A fronteira faz rebrilhar os seus olhares curiosos. A vivência
paraguaia impressiona a todos: costumes, fala e hospitalidade.
As cidades
são irmãs: se entendem magnificamente. O que encanta a gregos e troianos.
Mas... a cidade vaidosa, que carrega a esbelteza, é a brasileira. Por quê?
Porque é a capital com todas as honras. Foi decisão do eminente Dr. Getúlio
Vargas, Presidente da República. Nós
lhe somos
gratos – gratos de verdade, ao ilustre e buenacho filho de São Borja. Gaúcho de
muita fibra, que ama, com sinceridade, o nosso querido Mato Grosso, querência
de milhares e milhares de gaúchos macanudaços.” Instalado o governo
territorial, este passou a cuidar da sua organização administrativa e
judiciária. Comarcas e municípios foram criados, não faltando especial atenção
para com o ensino primário então praticamente inexistente na região.
A fim de
facilitar o aproveitamento das férteis terras da nascente povoação de Dourados,
o governo federal, pelo Decreto n. 5.941, de 28.10.43, implantou a Colônia
Federal de Dourados, no município de Ponta Porã, numa área de trezentos mil
hectares, dividida em dez mil lotes de trinta hectares cada, que foram cedidos
a colonos, o que deu grande impulso à região com a colocação de inúmeras
famílias de agricultores, principalmente nordestinos, o que ensejou alguns anos
depois o surgimento de povoados e a criação de prósperos municípios que
constituem a hoje denominada Grande Dourados. Esta Colônia deveria ter sido
criada um ano antes, em 1942, em decorrência de sugestão do Ministério da
Agricultura,
não fora a atitude adotada pelo
interventor federal em Mato Grosso – bacharel Júlio Müller, que negou a cessão
da área pretendida, sob a alegação de que ela deveria ser localizada na região
norte do Estado...
Foi essa atitude do então
interventor recebida pelos sulistas como mais uma demonstração de que o que
fosse bom para o sul não o era para o norte. Getúlio Vargas, que na sua visão
de estadista sempre esperava o momento oportuno para efetivar o que planejara,
exarou, na ocasião, lacônico despacho nos seguintes termos: “Não querendo o
Estado fazer cessão das terras escolhidas pelos técnicos do Ministério da
Agricultura, não pode ser criada a Colônia. Rio, 19.02.942.”
A 17 de novembro de 1945, o
governador Ramiro Noronha, que demonstrara ser possuidor de alto tino de
administrador, deixou o governo do Território, em virtude de exoneração
solicitada. Substituiu-o o major José Guiomar dos Santos, que logo depois foi
substituído pelo médico José Alves de Albuquerque.
No ano de 1946, promulgada a
nova Constituição Federal, esta trouxe no seu capítulo de Disposições
Transitórias, artigo 8.°, a extinção do Território de Ponta Porã, voltando a
sua área a integrar o Estado de Mato Grosso.
Foi decepcionante para os
territorianos a decisão constitucional. Em conseqüência, a esperança de que o
sonho separatista um dia se concretizasse voltou a ser uma constante no seio de
toda a população que mourejava acima da torrente do Paraná.
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